O que muda sem Bin Laden?

É claro que sempre há quem possa questionar a veracidade da notícia, dada pelos Estados Unidos, da morte de seu arquiinimigo Osama Bin Laden. Afinal, a invenção de notícias e a promoção de eventos diversionistas não é novidade na história estadunidense. Porém, assim como não temos provas de que Bin Laden tenha morrido, tampouco temos provas de que ele está vivo, portanto podemos nos questionar: o que muda sem Bin Laden?
No meu entender, a ausência do líder da Al-Qaeda deve alterar muito pouco a geopolítica mundial, tendo efeito positivo apenas sobre a popularidade de Barack Obama entre o público estadunidense. Na região que se estende do Marrocos ao Paquistão, são três os grandes focos atuais de conflitos, e apenas quando estes três aspectos forem solucionados poderá haver um período de paz e prosperidade à região.
• a “primavera árabe” vem opondo, entre muitos países árabes que se estendem do Marrocos ao Iraque, a população jovem a governos autoritários, conservadores e sectários há muito tempo implantados no poder. O processo rápido e relativamente indolor na Tunísia e no Egito deu a impressão de que a derrubada dos ditadores da região seria um passeio no parque. Os presidentes da Líbia e da Síria estão mostrando que o passeio não será tão agradável. No centro da questão, o dilema dos Estados Unidos: apoiar os governos que há anos lhes vêm sendo úteis, reprimindo manifestações extremas de grupos anti-ocidentalizantes e garantindo a segurança energética do país (leia-se: petróleo), ou defender os direitos humanos, a democracia e a autodeterminação popular, que seu presidente considera serem direitos “universais” (e que podem eventualmente levar a governos que lhes são contrários) ?
• a “questão palestina” continua premente. A cada dia mostra-se mais distante a possibilidade da criação de um Estado palestino, e é possível que em breve Israel veja-se obrigado a incorporar a população palestina ao Estado judaico, para depois passar por sua “primavera árabe”. A recente união entre Fatah e Hamas não deve ser vista com esperança, pois pode fornecer o pretexto para novas ações terroristas por parte do Estado de Israel, desalojando a população palestina para a construção de suas colônias. Embora aparentemente restrito, a manutenção desse impasse tem conseqüências sobre todo o mundo árabe.
• o pano de fundo dos conflitos no Oriente Médio continua sendo a óleo-dependência estadunidense. Os atentados de 11 de setembro, assim, tiveram a função instrumental de dar ao ex-presidente estadunidense “carta branca” para agir na região do Mar Cáspio e Golfo Pérsico, onde se encontram as maiores reservas petrolíferas do mundo. A ocupação do Afeganistão e do Iraque, assim, não tem data para terminar, mantendo-se como fonte de instabilidade na região. Direitos sobre o petróleo levam a conflitos também entre outros antagonistas na região (como a Chechênia e o governo da Federação Russa), e enquanto não se criar um novo paradigma energético (no consumo e não na produção), é de se supor que o Oriente Médio continuará sendo foco de conflitos.

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