O despertar do Urso

O presidente russo Vladimir Medvedev reconheceu oficialmente, nesta terça-feira (26/ago), a independência das regiões separatistas da Geórgia, agravando a situação no Cáucaso – tabuleiro em que Estados Unidos e Rússia disputam posições geoestratégicas. As regiões da Ossétia do Sul e Abkhazia haviam declarado sua independência no início da década de 1990, quando se deu o esfacelar do império soviético. Sem apoio russo ou de outras potências da comunidade internacional, porém, as províncias permaneceram sob o controle georgiano até o início de agosto, quando se deu o despertar do urso.
O avanço russo sobre a Geórgia parece ter se definido em função da política dos Estados Unidos, e evidencia a dupla decadência estadunidense – a progressiva decadência econômica e militar, e a transitória decadência política. Não se trata de considerar apenas a impossibilidade de uma resposta militar por parte dos Estados Unidos, comprometido com suas centenas de bases militares em 130 países do mundo e duas guerras em andamento no Iraque e Afeganistão, que por sua vez vêm agravando a situação econômica ao comprometerem os gastos governamentais em cerca de 1 trilhão de dólares por ano (segundo Chalmers Johnson – clique aqui para ler). A esse panorama de fundo, soma-se a situação do presidente George W. Bush, entrando na fase final de mandato – um final melancólico, em que progressivamente a população estadunidense começa a notar que o legado dos anos Bush não será nada positivo (exceto para os donos de empresas de armas e petróleo). Incapacitado de tomar qualquer ação política ou militar efetiva, o presidente “pato manco” transmitirá o cargo ao seu sucessor apenas em janeiro de 2009, quando a independência das regiões separatistas já será um fato consumado, tendo passado dos noticiários para a história.
A fortalecer os ideais expansionistas russos, a certeza de que, com o controle do petróleo e do gás natural que energizam a Europa, a posição do Urso sobre o tabuleiro fica extremamente privilegiada. A Europa, assim, vê-se refém de uma Rússia que tem como sua principal força o controle dos oleodutos e gasodutos vitais para sua existência, e permanece incapaz de sair do nível do latido para o da mordida.
Consciente de que qualquer ação ocidental não passará do nível da retórica ou de inócuas sanções diplomáticas, Medvedev sente-se à vontade para dar vazão ao espírito imperialista russo, ainda que ameaçando gerar uma nova Guerra Fria. Nesta, porém, o verdadeiro oponente dos russos será a Europa Ocidental (tendo os Estados Unidos como adendo), numa lembrança do velho imperialismo russo em choque com projetos semelhantes de França, Prússia e Grã-Bretanha.

Nenhum comentário: