Rumo a um Novo Oriente Médio

No dia 22 de setembro deste ano, portanto 15 dias antes dos ataques do Hamas a Israel, o primeiro-ministro deste país compareceu à Assembleia Geral da ONU, onde apresentou sua visão para um “Novo Oriente Médio” (foto abaixo). No discurso, o líder sionista exaltou a paz firmada há três anos com Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Marrocos e Sudão, assim como a possibilidade – e proximidade – de um acordo com a Arábia Saudita. Nos mapas apresentados, representando Israel em 1948 e no presente, não havia menção à Palestina, deixando clara a forma que tomará, segundo o projeto sionista, o “Novo Oriente Médio”. 


O fato de não haver menção ao Estado Palestino no mapa poderia indicar que o governo israelense almeja a solução “um Estado para dois povos”, transformando os palestinos da Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental em cidadãos israelenses. Isto no entanto descaracterizaria o caráter judeu do Estado sionista, que teria de se transformar num Estado laico, em que origem nacional e religião não seriam condicionantes para a participação política – o que vai além do que o mais ingênuo dos otimistas poderia imaginar. Um Estado para dois povos, no caso da atual liderança israelense, poderia significar apenas um Estado baseado numa forma extrema de apartheid, com os palestinos vivendo em guetos cercados por muros e outros aparatos de segurança (o que na prática já ocorre há algumas décadas).
Há no entanto uma outra opção, do ponto de vista do atual governo de Israel: a constituição de “um Estado para um povo”, com a aceleração da limpeza étnica que vem sendo conduzida desde o próprio nascimento do Estado sionista, na chamada Primeira Guerra Árabe-Israelense (1947-1949), em que 531 vilas e oito bairros urbanos foram despovoadas pelas forças coloniais sionistas, dando origem à primeira leva de refugiados palestinos (o que é relatado em detalhes pelo historiador israelense Ilan Pappe, no livro A limpeza étnica da Palestina). O processo repetiu-se posteriormente na Guerra dos Seis Dias, em 1967, em que Israel ocupou a Cisjordânia, Jerusalém Oriental e a Faixa de Gaza – esta desocupada em 2005, mas desde então mantida como uma prisão pelo Estado sionista, que controla suas fronteiras terrestres, marítimas e aéreas, além do acesso a água e energia (enquanto grande parte da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental vem sendo despovoada para ocupação pelos colonos sionistas). E é justamente na Faixa de Gaza onde se localizam muitos desses refugiados das guerras anteriores promovidas por Israel, agora forçados ao deslocamento pela segunda ou terceira vez.
A simples observação da imensa destruição e mortandade provocadas por Israel na Faixa de Gaza (por canais como a Al Jazeera, que mostram o que os órgãos de imprensa ocidentais omitem) permite supor que a opção “um Estado para um povo” foi a escolhida pelo governo sionista, que agora vem promovendo, à vista do mundo, o despovoamento da Faixa de Gaza (ou pelo menos de sua metade norte), expulsando os palestinos para o Egito ou Jordânia. 
Com o ataque do Hamas contra Israel, o Estado colonialista de Israel já tem o 11 de setembro para chamar de seu (nesse sentido seria interessante a imprensa israelense investigar por que o governo ignorou os alertas egípcios de que algo grande estava para ocorrer). O primeiro-ministro sionista, antes criticado e mesmo acusado de corrupção, formou um governo de coalizão com os adversários políticos de maneira a enfrentar a guerra, ganhou carta-branca para usar a força contra a Palestina, e receberá algumas dezenas de bilhões de dólares dos Estados Unidos, sendo grande parte em armamentos modernos, além da presença de dois porta-aviões e suas frotas de maneira a dissuadir Irã ou Rússia de intervirem no conflito. E com a invasão terrestre que se inicia, já avisou que a guerra será longa, de maneira a poder configurar o Oriente Médio à sua maneira – isto é, sem o Estado da Palestina.

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