A mídia e o Irã

Muitos têm razões para desejar a queda do presidente Mahmoud Ahmadinejad. O recente noticiário sobre as manifestações no Irã deixa isto bem evidente. A mídia ocidental já escolheu seu campo, e sequer analisa a hipótese de que Ahmadinejad efetivamente tenha vencido por ampla margem, deixando-se impressionar pelas multidões em passeata nas ruas de Teerã.
É verdade que há denúncias de fraudes, porém aparentemente estas não foram generalizadas. O Conselho dos Guardiões propôs que fosse realizada uma recontagem dos votos, mas o candidato derrotado Hossein Mousavi e seus apoiadores se opuseram a isto, talvez por temer que a recontagem aponte nova vitória de Ahmadinejad.
Goste-se ou não do polêmico presidente iraniano, a vontade popular deve ser respeitada (mesmo que sejam tantas as vezes em que não gostamos dos “legítimos representantes eleitos” de certas nações...). E diversas evidências indicam que é bastante possível que o resultado reflita o voto real da população:
• inicialmente há de se considerar que enquanto Mousavi tem o apoio da classe média urbana e da elite social, Ahmadinejad é identificado como o candidato dos pobres – e há muitos pobres no Irã, que se beneficiam dos generosos programas sociais do governo, e ouvem os sermões dos clérigos conservadores nas mesquitas;
• embora se fale muito na importância da Internet na mobilização da oposição, não se informa que apenas um em três iranianos tem acesso à rede, e regiões inteiras do país são “desconectadas”;
• enquanto na mídia ocidental comenta-se que Ahmadinejad não teria vencido entre os Azeris (etnia presente no noroeste do país, e da qual provém o candidato derrotado Hossein Mousavi), pesquisas independentes indicam que esta etnia votou majoritariamente a favor do atual presidente;
• além disso, ao contrário da crença divulgada no Ocidente, a população jovem, mesmo das cidades, apóia Ahmadinejad.
É bem provável, assim, que Ahmadinejad tenha vencido as eleições, com o apoio dos pobres, das populações rurais e dos tradicionalistas religiosos, com Mousavi conquistando o voto das classes médias e educadas das grandes cidades.
À mídia ocidental cabe olhar para o resultado destas eleições com maior parcialidade, despindo-se do manto de hipocrisia com que se refere assuntos tais como os problemas políticos do Oriente Médio.

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