Crimes de guerra? Deixa pra lá!

Como previu este analista na primeira postagem a respeito do Massacre em Gaza, Israel encerrou seu covarde ataque contra a população de Gaza após três semanas de bombardeios aéreos e ações terrestres – em 29/dez, eu escrevia: “Aparentemente, pouco mais de 20 dias é do que o exército israelense precisa para ‘liquidar o Hamas’, restando outros tantos dias para o governo israelense beneficiar-se da ilusória sensação de vitória.” Encerrada a fase “militar”, assim, passamos à fase dos pretensos ganhos “políticos”, supondo-se que o Kadima saberá transformar em votos o apoio ganho durante o massacre.
E foi realmente um massacre, uma espécie de vingança cega justificada pela morte de três civis israelenses atingidos pelos foguetes lançados pelo Hamas. Assim, um Estado-membro da ONU escolhe, contrariamente à ação diplomática, a ação militar para punir coletivamente toda a população da Faixa de Gaza, de onde brota a resistência contra a ocupação sionista.

O resultado desta matemática perversa é:
Para TRÊS CIVIS MORTOS em Israel:
• mais de 1.300 PALESTINOS EXECUTADOS – sendo a grande maioria civis (os grupos de resistência palestinos reportam a morte de apenas 149 militantes) e mais de 400 crianças;
• mais de 5.000 palestinos feridos;
• mais de 4.000 casas totalmente destruídas e outras 21.000 parcialmente destruídas, com mais de 100.000 palestinos desabrigados;
• destruição de toda infra-estrutura política e admistrativa da Faixa de Gaza, além de pontes, estradas, 10 estações geradoras de eletricidade e rede de esgotos;
• destruição da Universidade Islâmica de Gaza e de 25 outras escolas;
• destruição de vários hospitais e de 20 ambulâncias;
• destruição de 1.500 fábricas, ateliês e lojas.
• mais de 400.000 pessoas sem água corrente, quase 1.000.000 de pessoas sem energia;
• utilização de armas químicas banidas pela Convenção de Genebra (bombas de fósforo usadas em áeas urbanas).

Covardia internacional
Na década de 1930, a Alemanha nazista crescia como força imperialista. Em 1934, abandonou a Liga das Nações; em 1935 iniciou sua remilitarização; em 1936, ocupou militarmente a Renânia (que, por exigência francesa, deveria permanecer livre de tropas alemãs); em 1938, anexou a Áustria, e Hitler pasosu a exigir os Sudetos, pertencentes à Tchecoslováquia. Em setembro daquele ano, as potências ocidentais reuníram-se na tristemente célebre Conferência de Munique, onde solenemente entregaram a Hitler o território desejado. Em março de 1939, a Alemanha ocuparia o restante da Tchecoslováquia, e após o tratado com a União Soviética, invadiu a Polônia, dando início à II Guerra Mundial.
Até hoje é objeto de debate entre os historiadores o motivo da “não-intervenção” das potências da década de 1930 nos processos de fascistização ocorridos em diversos países europeus – que em muitos aspectos contrariavam a legislação internacional, os tratados posteriores à Primeira Guerra (Versalhes e outros) e a Carta da Liga das Nações. Enquanto os franquistas derrubavam o governo legitimamente eleito na Espanha e davam início à Guerra Civil, enquanto a Itália ocupava a Etiópia ou o Japão ocupava a Manchúria, enquanto Hitler iniciava a perseguição aos judeus na Alemanha, o mundo “democrático”, “republicano”, enfim, “civilizado”, se calava. O resultado todos conhecemos.
Hoje, o Estado de Israel porta-se como se portou o governo nazista da Alemanha nos anos anteriores à Guerra. É uma opção sua. O que é insuportável é a covardia da comunidade internacional diante de atos como os ataques a escolas da ONU que serviam de refúgio a civis, o bombardeio ao armazém da ONU na Faixa de Gaza (com a destruição de todos os estoques de alimentos e remédios emergenciais para os palestinos) ou a utilização de bombas de fósforo em áreas civis – que se caracteriza claramente como CRIME DE GUERRA e seria suficiente para levar qualquer liderança político-militar não israelense para o Tribunal Internacional de Crimes de Guerra.
O governo israelense, entretanto, goza de imunidade internacional, e daqui a poucos dias os crimes cometidos em Gaza cairão no esquecimento – com a ajuda da grande imprensa e dos governos ocidentais. Em breve o Hamas se rearticulará. Novos ataques contra Israel ocorrerão. E novamente ouviremos as notícias que os terroristas atacaram Israel. Como esses palestinos são malvados!

Um comentário:

Anônimo disse...

Dito e feito!
Menos de um mês depois e não se fala mais no assunto. Como se o problema tivesse sido resolvido, como se a guerra não tivesse destruído tantas vidas e arruinado outras e, principalmente, como se a postura de Israel fosse apenas defensiva e não ofensiva.
É revoltante constatar a condescendência não menos covarde dos grandes chefes de Estado das potências mundiais diante da contabilidade trágica de uma guerra injusta.
A brutalidade desproporcional sinaliza que Israel não se contentará enquanto não dizimar a população palestina. Fará isso aos poucos, para que a massa mundial seja devidamente manipulada pelos meios de comunicação, que tratarão de proteger Israel das comparações com os nazistas.
Infelizmente a questão remanescente não é "se" ocorrerá um próximo ataque, mas sim "quando" ocorrerá.