Sete anos de guerra no Afeganistão

Neste dia 6 de dezembro, completam-se sete anos da rendição do Talebã no Afeganistão – país invadido menos de um mês após os atentados de 11 de setembro de 2001, por uma coligação liderada pelos Estados Unidos. O objetivo expresso era lutar contra o regime malvado – o Talebã – que teria dado abrigo aos terroristas malvados – a Al Qaeda – que teriam promovido o atentado contra os símbolos do poder econômico e militar estadunidense.
Lembram-se como foi fácil derrubar o governo dos malvados? (Que para facilitar a identificação, se vestiam todos de preto, com turbantes na cabeça...) Em menos de dois meses, as tropas ocidentais e seus aliados afegãos controlavam quase todo o país, tendo facilmente derrotado o governo que se opunha à construção de oleodutos estadunidenses em seu território.
Pois bem: sete anos se passaram, e o que no início pareceu ser mais um “passeio” da superpotência mundial e seus aliados, acabou por se tornar mais uma guerra inconclusa, como outras ocorridas no século XX, sobretudo as que envolveram colonizadores contra colonizados. Nestas, o poderoso exército invasor não enfrenta um outro exército, identificado, uniformizado, acantonado, porém envolve-se numa guerra de guerrilhas, contra combatentes irregulares, indistintos da população civil, incentivados pelo inevitável fanatismo de quem defende sua terra e suas crenças. Os Estados Unidos, com a trágica lembrança da guerra do Vietnã, deveriam saber disso – como o sabem muito bem os russos, que durante nove anos tentaram proteger o governo comunista de Cabul, sendo finalmente derrotados em 1988 para os mujahedim apoiados pelos Estados Unidos e pelo Paquistão (o que levou, após mais alguns anos de conflitos internos, à subida ao poder do Talebã em 1997).
Hoje, o Talebã e outras milícias comandadas por chefes regionais voltaram a controlar grande parte do país, enquanto a coligação ocidental tem poder bastante limitado fora da região entre Cabul e Jalalabad. O cultivo de papoulas voltou florescer e a produção de ópio novamente é a mais rentável do país. Os ataques aos 65.000 soldados da coalizão da OTAN vêm crescendo continuamente desde 2005, tornando-se também mais efetivos. Quanto ao número de civis mortos, embora desconhecido, vem aumentando significativamente nos últimos meses, uma vez que diante da dificuldade do confronto direto, a coalizão ocidental vem aumentando a intensidade dos bombardeios contra os “campos de treinamento de terroristas” – muitas vezes confundidos com vilarejos onde as vítimas são apenas mulheres, crianças e velhos.
Para o futuro presidente dos Estados Unidos, duas políticas conflitantes apresentam-se: a primeira, que vem sendo a cada dia mais abertamente defendida no próprio Afeganistão, envolve reconhecer o poder do Talebã no país, trazendo-o à mesa de negociações e à partilha do poder, e transformando a Al-Qaeda em inimigo comum. A segunda, defendida pelos generais no campo de batalha, considera o aumento de tropas de maneira semelhante à empreendida no Iraque.
Assim como no Vietnã e no Iraque, porém, qualquer tentativa de impor à força um governo pró-ocidental estará fadada ao fracasso. O mundo ocidental só terá amigos no Iraque e no Afeganistão quando começar a tratar os habitantes destes países como merecedores dos mesmos direitos que seus próprios cidadãos, o que está muito distante de ocorrer. O que trará iraquianos e afegãos para o “lado ocidental” – assim como iranianos, sírios, palestinos – não são bombas, bloqueios, ou governos fantoches, mas respeito, cultura, alimento, e verdadeiras democracias.

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