O Rei está Nu

O jornalista iraquiano Muntazer al-Zaidi protagoniou neste domingo o que pode se tornar a cena mais significativa dos oito anos de governo Bush – acredito que daqui a algumas décadas, quando nos lembrarmos deste período, a imagem que nos virá à cabeça é a dos sapatos sendo arremessados contra o líder do Império estadunidense, e não a das torres caindo.
No Oriente Médio, um dos maiores insultos é atirar os sapatos – quem não se lembra da estátua de Saddam Hussein sendo “sapateada” em maio de 2003, ou da própria bandeira dos Estados Unidos e de Israel sendo pisoteada em qualquer protesto da rua palestina? Outro grave insulto é chamar alguém de “cachorro” – honra que o jornalista também concedeu a Bush.
Considero a cena significativa, pois revela de maneira clara a decadência do Império estadunidense – que teve seu auge nos anos 1990, com o governo do democrata Bill Clinton, a inexistência de concorrentes comerciais e militares, e a adesão quase universal aos princípios do livre mercado e da cultura hollywoodiana. Tudo mudou no início de 2001, porém, quando se iniciou o governo de George Bush Júnior, após eleições fraudadas, e retornaram ao poder os denominados “neoconservadores”. Estes, após promoverem os atentados de 11 de setembro de 2001, levaram o país a adotar uma postura imperial distinta da hegemonia obtida pelo consenso, preferindo a boa e velha hegemonia da força bruta.
As guerras desde então empreendidas, (contra o Talebã, contra Saddam, contra o “Terrorismo Internacional”) levaram o país a uma situação próxima da falência, e avizinha-se a “Grande Crise” da quebra do Estado estadunidense (a atual crise NÃO É o principal sinal da falência dos EUA; a verdadeira Grande Crise ocorrerá apenas quando os agentes financeiros internacionais reconhecerem que os EUA não têm mais condições de honrar suas dívidas). A decadência do Império é inegável e irremediável, e não houve ninguém que tenha o expressado de maneira melhor do que Muntazer al-Zaidi – hoje, o herói do mundo árabe.

Jornalistas em perigo
A propósito, vale destacar que o jornalista al-Zaidi havia sido seqüestrado e torturado durante dois dias, em novembro de 2007, por indivíduos não identificados que lhe interrogaram sobre sua atividade profissional (ver matéria). No Iraque, desde o início da invasão bushiana, foram mortos 222 jornalistas e assistentes (veja site do Repórteres Sem Fronteiras). Acredito que o presidente estadunidense não goze de grande estima entre os jornalistas iraquianos...

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