Reflexões sobre a vitória de Obama

O fim da hegemonia WASP?
Para quem esperava que o “fator racial” tivesse um papel definidor nesta eleição presidencial estadunidense, o resultado em favor de Barack Obama foi uma verdadeira surpresa. O fator racial, efetivamente, foi fundamental para o resultado – porém no sentido oposto ao que eu e muitos analistas imaginavam. Os números revelados pelas pesquisas de boca-de-urna são impressionantes, e falam por si só: entre os eleitores afro-americanos (13% do total), o candidato Barack Obama teve acachapantes 95% dos votos, enquanto seu concorrente John McCain teve meros 4%. Além disso, Obama teve 66% dos votos dos “latinos”, 61% dos asiáticos e 65% das demais etnias. Por seu lado, McCain obteve 55% dos votos dos brancos (que representam 74% dos eleitores).
Estes números sugerem a configuração de uma coalizão afro-hispânica contra a hegemonia WASP (Branca, Anglo-Saxônica e Protestante) que desde as origens governa o país. Certamente não se trata de projeto conscientemente elaborado pelos grupos étnicos minoritários na sociedade estadunidense, mas é possível que com o tempo a união entre afro-americanos e latinos venha a se constituir de maneira mais formal e evidente. Também é bem possível que, uma vez no poder, Barack Obama venha a sofrer forte oposição por parte dos mais diversos grupos descontentes com sua eleição – resta torcer para que esta oposição não tome as formas extremas que foram usadas pelo governo que nos últimos oito anos esteve no poder.

Vitória fácil
Outro aspecto interessante que as pesquisas de boca-de-urna evidenciam é como a diferença geracional que separa os dois candidatos espelhou-se fortemente na votação obtida entre as faixas etárias. Entre os mais jovens (18 a 29 anos) Obama obteve 66% dos votos; na faixa dos 45 aos 64 anos, os dois candidatos dividiram igualmente os votos. Apenas entre os maiores de 65 anos McCain sagrou-se o vencedor, com 53% dos votos.
Para facilitar a tarefa do jovem e elegante candidato afro-americano, sua aprovação entre as mulheres foi de 56%, enquanto os homens dividiram-se igualmente entre os dois candidatos. Some-se a isto os votos de dois terços dos jovens, dois terços dos latinos e asiáticos, e mais de nove entre cada dez afro-americanos, e tem-se uma eleição mais do que garantida.

Bom ou ruim?
É difícil afirmar se, para o Brasil, a vitória de Obama tem mais aspectos positivos ou negativos. A postura dos democratas, mais intervencionista na economia – especialmente em tempos de crise – pode ser empecilho a algumas exportações brasileiras (por exemplo, o etanol), que devem esbarrar num maior protecionismo estadunidense. Por outro lado, a própria intervenção estatal na economia, ao estilo keynesiano, procurando retirar o país de um período de recessão, pode levar novamente a economia estadunidense a um novo período de crescimento, o que por sua vez terá reflexos positivos também aqui.
É no campo da política externa, porém, onde se esperam as maiores mudanças com o governo de Barack Obama – embora, no meu entender, tais mudanças devem ser mais cosméticas, ou de estilo, do que de conteúdo. Certamente deverá haver um retorno dos Estados Unidos aos organismos multilaterais de solução de conflitos, e talvez se estabeleçam conversações de paz com grupos hoje considerados do “eixo do mal”. Também deverá ser mais atuante a presença dos Estados Unidos em organismos e fóruns a respeito da preservação do meio-ambiente e do desenvolvimento das energias renováveis.
Não se devem esperar, porém, grandes avanços na mediação do conflito entre Israel e Palestina, uma vez que historicamente os democratas apóiam acriticamente o Estado sionista e será quase impossível ao jovem presidente questionar tal apoio. Também não parece ser tarefa fácil “sair do Iraque”, após terem os Estados Unidos construído dezenas de bases permanentes, além da maior embaixada estadunidense em todo o mundo, e não ter conseguido estabelecer um governo iraquiano confiável que mantenha unificada as três regiões do país e ainda faça frente ao vizinho Irã. Para complicar a tarefa de Obama, tudo indica que deve se manter a guerra contra a Al-Qaeda no Afeganistão, e a fracassada perseguição a Bin Laden. Como tantas outras guerras que por lá se travaram, porém, esta guerra não pode ser vencida, e apenas arranjos políticos e econômicos poderiam garantir aos EUA o que tanto almejam na região: os oleodutos e gasodutos para escoar a produção petrolífera do Mar Cáspio. A sombra do presidente Bush, de qualquer forma, dificilmente abandonará os primeiros anos do governo de Obama.

Melhor que o outro...
Como avaliação final, resta concluir que a vitória de Obama foi positiva, sobretudo em face do risco representado pelo seu opositor – que não apenas manteria as estúpidas políticas econômicas e externas de seu predecessor, como manteria o mundo inteiro em suspense diante da possibilidade de uma falha em seu coração deixar nas mãos da aspirante a vice-presidente, Sarah Palin, um arsenal nuclear capaz de acelerar a chegada do Armagedom.

Um comentário:

Anônimo disse...

Fala Gattaz, tudo bom cara?

Eu to um pouco pessimista em relação a Obama, espero estar errado.

Acredito em um ataque terrorista nos primeiros dias de governo Democrata. Torço pelo Obama e torci por ele, mas acho que estão esperando demais dele, coisa de americano e seus super heróis.

grande abraço

ex-aluno FIB