Síria e Líbano buscam normalizar relações

O estabelecimento de relações diplomáticas entre o Líbano e a Síria, ocorrido no dia 15 deste mês de outubro, é um ato de considerável importância simbólica. É a primeira vez que estes Estados estabelecem tais relações desde as declarações de independência de ambos os países na primeira metade da década de 1940.
Os dois Estados, surgidos dos destroços do império colonial francês, estiveram sempre ligados por fortes conexões históricas, comerciais, familiares e políticas. As relações entre ambos, porém, se deterioraram nos últimos anos, especialmente após a morte do primeiro-ministro libanês, Rafiq al-Rariri, ocorrida em fevereiro de 2005, num atentado cuja responsabilidade foi atribuída à Síria – e que levou, meses depois, à retirada das tropas sírias de território libanês após 30 anos de presença contínua.
O estabelecimento de relações diplomáticas entre os países evidencia o reconhecimento sírio da independência libanesa, sendo derrotada a idéia de uma "Grande Síria". Por sua vez, o governo libanês reconhece que a Síria tem interesses vitais no Líbano, e que não vai tolerar um governo hostil em Beirute (como expressa claramente o acordo de Doha, de maio de 2008, que encerrou a crise política que até então ocorria no país, atribuindo ao Hezbollah, aliado sírio, o poder de veto às decisões do governo). Neste sentido reforça-se a importância do eixo Hezbollah-Damasco-Teerã, único contraponto local à hegemonia da aliança sionista-estadunidense.
A reconciliação entre Síria e Líbano é um passo importante para restaurar a estabilidade na região. Espremido entre poderes rivais, inevitavelmente o Líbano terá que aceitar certas restrições sobre sua independência (notadamente a influência síria sobre sua política), para poder, por outro lado, se beneficiar da amizade e associação com seu vizinho mais próximo – não apenas geograficamente, mas também histórica e culturalmente.

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