EUA: ataque ao Irã ou 11 de setembro?

Cabe ao analista das Relações Internacionais, além de conhecer o passado e procurar compreender o presente, fazer previsões para o futuro, possibilitando a elaboração de estratégias de ação por parte de governos, empresas e mesmo indivíduos. Arriscando-me a um palpite sobre os próximos meses da política estadunidense, chego a ter calafrios ao avaliar duas possibilidades de desdobramento da corrida à Casa Branca, antes mesmo que se consagre o novo presidente do país: um ataque militar ao Irã, ou um “novo 11 de setembro”.
Coloco tais eventos na mesa de possibilidades para os próximos três meses devido à emergência do senador democrata Barack Obama à frente do republicano John McCain nas mais recentes pesquisas de opinião. Embora, como vimos em postagem anterior, o senador Obama não pretenda e não possa alterar substancialmente a política externa estadunidense, o receio de perder o poder, por parte do grupo neoconservador que acompanha o presidente George W. Bush, pode levá-los a empreender uma nova ação diversionista, levando a população a engajar-se novamente na “luta contra o terror”, fortalecendo o apoio ao candidato republicano.
Tal receio justifica-se. Os atentados de 11 de setembro de 2001, atribuídos a Osama Bin Laden e seus seguidores, foi efetivamente tramado dentro dos corredores do Pentágono, sendo executado com a anuência da Casa Branca (veja mais em Setembro 12), e teve como um dos principais objetivos desviar a atenção dos problemas econômicos que o país enfrentava, trazendo a população para o lado de um presidente que em seu oitavo mês de governo já tinha baixos índices de aprovação. (No plano externo, os ataques permitiram o deslanchar da “Guerra Global ao Terror”, que deu carta branca ao governo estadunidense para tentar controlar as regiões do Golfo Pérsico e Mar Cáspio, onde se encontram as maiores reservas energéticas do mundo.)
A importância de um ataque desta magnitude para a união da população em torno ao presidente e apoio às políticas ultra-militaristas do país havia sido expressa formalmente no relatório Rebuilding America’s Defenses, publicado em setembro de 2000 pelo Project for a New American Century, centro de pesquisas que reúne os principais nomes do pensamento neo-conservador estadunidense. Ali, à página 51, afirma-se que “somente um evento catastrófico e catalizador – como um novo Pearl Harbor” seria capaz de provocar a “mudança revolucionária” que preservará a proeminência militar estadunidense para as próximas décadas. Três meses depois da publicação do relatório, seus autores chegaram ao poder; um ano depois, um míssil atingia o Pentágono (em um setor que estava fechado para obras), e aviões militares atingiam as Torres Gêmeas do WTC, em seqüência implodidas, juntamente com um terceiro prédio do complexo. Era a política do medo – elaborada na década de 1970 por Leo Strauss, guru dos neo-conservadores – sendo colocada em prática.
Outra opção que traria de volta o apoio de parte da população ao impopular presidente e seu partido seria um ataque aéreo ao Irã. Os tambores de guerra vêm rufando nos Estados Unidos, e a própria postura desafiadora do regime de Ahmadinejad vem criando fatos que podem ser utilizados pela retórica neo-conservadora como justificativas para um ataque. É sabido que o Exército estadunidense não tem condições materiais e humanas de empreender uma nova invasão terrestre, comprometido que está nas guerras do Iraque e Afeganistão, porém um ataque aéreo é bastante considerado por setores da elite militar e política. A lista de alvos já está pronta há alguns anos.
Considerando-se os efeitos, inclino-me mais a crer num novo ataque terrorista ocorrendo em território estadunidense, pois a invasão ao Irã teria maiores custos e “contra-indicações” bem piores – tais como a esperada retaliação iraniana contra tropas dos EUA no Iraque e contra Israel, para não mencionar mais uma disparada do preço do petróleo (que deixaria na lembrança o aumento de 400% na commodity, iniciado após a invasão do Iraque em 2003). Por outro lado, um “novo 11 de setembro” não seria tão custoso, trazendo o “benefício” do maior impacto sobre a população, inclinada a acreditar em fantasmas islamo-fascistas rondando os ícones de sua cultura materialista, levando-a, como uma boiada, a apoiar o candidato republicano. Para fortalecer esta aposta, lembremos da afirmação feita há menos de um mês por Charlie Black, assessor sênior de John McCain, de que um novo atentado terrorista dentro dos Estados Unidos favoreceria o candidato republicano. Será que ele sabe de algo que eu não sei?

2 comentários:

Anônimo disse...

Caro Gattaz,

O que achas da possibilidade de um falso ataque perpetrado durante as Olimpíadas na China, com a culpa imediatamente lançada sobre os uigures muçulmanos? Confirmaria a idéia da necessidade de uma "guerra global contra o terrorismo" e de certa forma colocaria os neocons americanos e o governo chinês do mesmo lado.

Anônimo disse...

A hipótese de um novo 11 de setembro não é totalmente descartável, mas seria um “tiro no pé”, pois enfraqueceria ainda mais a confiança na economia do país, tão fragilizada pela crise do subprime e pelo crescimento pífio de anos. Apesar de ser menos custosa em um primeiro momento, esta opção faria com que a população amedrontada cobrasse uma reação imediata, o que tornaria inevitável o ataque ao Irã na seqüência (a esta altura é provável que as eleições já estariam ganhas).
Atitudes irracionais e inconseqüentes são sempre possíveis quando se trata de disputa por poder. Salve-se quem puder.