Gaza: velhos padrões de comportamento


Parece que já vimos este filme. Passadas as eleições estadunidenses, e a menos de dois meses das eleições em Israel, este país desencadeia uma nova ofensiva contra a Faixa de Gaza, respondendo a foguetes lançados pelos radicais palestinos contra o Estado judaico – pelo menos é o que atesta a grande mídia ocidental, pois para a imprensa independente os foguetes palestinos são uma reação à ocupação israelense da Palestina. Depois de centenas de mortos entre os palestinos, e uma ou duas dezenas entre os israelenses, tudo volta ao normal, com a Faixa de Gaza novamente destruída, a liderança palestina morta, e uma nova “geração perdida” destinada a substituir os pais na luta contra o poder colonialista. Foi assim em 2008/2009, com a operação que deixou 1400 palestinos e 13 israelenses mortos. Nos três dias dessa nova onda de ataques, já são 38 palestinos e 3 israelenses mortos, e para que a conta feche ainda faltam morrer algumas centenas de palestinos. 
É praticamente impossível, e agora inútil, saber quem quebrou a frágil trégua que havia se estabelecido desde 2009, embora em outros momentos já se tenha evidenciado a predisposição do governo israelense em romper os acordos acertados de maneira a gerar nova onda de violência e retaliações. A proximidade das eleições em Israel não deixou de ser notada pela maioria dos analistas como catalisadora dessa nova onda de violência. Observa-se na manobra do primeiro-ministro israelense a intenção de criar uma onda de unidade nacional que o garanta no poder. Assim como em outros momentos da história, a presença de um inimigo externo reforça a coesão interna no país “agredido” – e assim como em outros momentos da história, esse inimigo externo precisou ser criado por regimes militaristas interessados em sua perpetuação.
A receita para trazer novamente o inimigo à presença do cidadão israelense já é bem conhecida do governo sionista: o assassinato extrajudicial de algum líder palestino, provocando a imediata e inevitável reação na forma de foguetes disparados contra Israel. E aí entra o detalhe perverso, que indica a falta de disposição do governo israelense em resolver a questão pela via pacífica: o líder palestino assassinado em 14 de novembro, Ahmed Jabari, vinha conduzindo negociações para estabelecer um cessar-fogo permanente entre Israel e a Faixa de Gaza (conforme relato do negociador israelense Gershon Baskin). 
Para um Estado que se fundamenta no poder militar e na imposição de uma “muralha de ferro” ao redor de si, moderados não têm vez. Servem mais ao governo israelense a intransigência, o discurso inflamado, os foguetes sendo disparados contra seu território e – por que não ? – uns dois ou três mortos entre seu próprio povo. 

Um comentário:

Flavia Puppi disse...

É o ser humano contra o ser humano mais uma vez. Falta de valores e falta de sentido. Adorei seu artigo, parabéns pela clareza.