A ilusão do cessar-fogo entre Hamas e Israel

Entrou em vigor nesta quinta-feira (19/6) um cessar-fogo informalmente costurado por autoridades egípcias entre o Hamas e o Estado sionista. Como sempre, analistas desavisados prevêem o “retorno às negociações de paz”, embora de fato pouco possa se esperar deste novo acordo, obtido em função de necessidades específicas de cada uma das duas partes no conflito, e fadado ao fracasso como tantos outros. Cabe lembrar que o único acordo possível para a solução da Guerra da Palestina é a desocupação sionista das terras ocupadas em 1967 (Cisjordânia, Jerusalém Oriental, Colinas de Golã) e 1982 (Fazendas Cheba), conforme determina a Organização das Nações Unidas.
Para o Hamas, este período de cessar-fogo – em que o grupo de resistência palestino se compromete a cessar os ataques com foguetes a cidades do sul de Israel – tem o objetivo principal de assegurar a abertura, ainda que parcial e temporária, das fronteiras da Faixa de Gaza. Isto permitiria um alívio na situação de crise humanitária vivida pela população – mais de 1,5 milhão de palestinos cotidianamente privados de água, alimentos, remédios, trabalho e direito de locomoção, uma vez que os 340 km2 da Faixa de Gaza estão isolados do exterior devido à pressão militar israelense, e nem mesmo a ajuda humanitária fornecida pela ONU ou por ONGs consegue chegar à região. Além disso, o acordo cessaria com as retaliações israelenses à população de Gaza, executadas, como se diz no jargão da política internacional, com “força desproporcional” por meio do disparo de mísseis fornecidos pelos Estados Unidos – basta lembrar que, enquanto os foguetes disparados por palestinos contra Israel causaram a morte de 7 colonos sionistas desde o início da Nova Intifada, em setembro de 2000, a “reação desproporcional” israelense provocou a morte de 550 palestinos na Faixa de Gaza, SOMENTE NOS SEIS PRIMEIROS MESES DE 2008 !!!
Do ponto de vista do governo colonizador do Estado de Israel, o cessar-fogo, amplamente noticiado pelos meios de comunicação internacionais, é uma oportunidade para uma nova escalada da violência contra Gaza, como pretendem os falcões no controle das Forças Armadas. Isso porque, como ocorreu em outras ocasiões em que tréguas foram negociadas entre o Hamas e Israel, o governo israelense logo romperá o acordo e, sabendo levar a opinião pública a acreditar que o acordo foi rompido pelo Hamas, autorizará então uma nova investida militar contra a Faixa de Gaza (que aliás já está planejada pela cúpula militar sionista). Tal conduta do governo israelense é característica: ser o responsável pelo desencadear de cada nova fase de violência, rompendo propositalmente os períodos de cessar-fogo oferecidos pelos grupos palestinos (geralmente por meio do assassinato de líderes dos grupos de resistência), com o objetivo expresso de provocar uma retaliação palestina – que por sua vez dará justificativa a novas ações militares israelenses. Essa política foi identificada por diversos analistas, tais como Stephen Zunes (Foreign Policy In Focus), Alex Fishman (Yediot Ahoronot), e o jornal conservador estadunidense, Washington Post (em editorial), entre outros.
O roteiro, assim, encontra-se pronto: um ataque israelense contra algum líder da resistência palestina, a reação palestina com foguetes sendo disparados contra Israel, e a reação desproporcional israelense com uma nova investida militar contra a Faixa de Gaza, justificada devido ao rompimento do cessar-fogo por parte dos palestinos. Resta saber o prazo de validade do atual cessar-fogo. Façam suas apostas

2 comentários:

Anônimo disse...

É um paradoxo. Israel transformou Gaza em um gueto e submete os palestinos a privações análogas às que os judeus sofreram por imposição do regime nazista.
Sessenta e poucos anos depois, a história se repete. O povo judeu é protagonista de outra catástrofe da humanidade, porém, em nova roupagem. É lastimável constatar a infame troca de papel a que se propôs: de subjugado a algoz implacável. Ao invés de demonstrar superioridade, o povo judeu insiste em cometer os mesmos erros dos quais foi vítima em um passado não muito distante.
Até quando o mundo fechará os olhos para o recrudescimento de Israel contra uma nação despedaçada? Qual será o próximo passo? Campos de concentração? Câmaras de gás?
A mídia encobre, mas os dados não mentem. Será que a humanidade precisa de filmes produzidos em Hollywood para enxergar a covardia israelense?

Andre Gattaz disse...

Sr. Jacob e outros. Este site não é espaço para propaganda sionista ou pró-israelense. Sugiro que publiquem seus próprios blogs, onde ficarão à vontade para escrever suas opiniões sobre as políticas colonialistas de Israel. Este espaço é exclusivo para comentários sobre os artigos publicados, sem abusos, sem ofensas e sem mentiras históricas.
O autor.