Arma imoral

Mesmo a guerra tem suas regras, sua moral, sua ética (se pudermos aplicar tais palavras ao ato de matar em nome de interesses próprios). Destas regras, a mais importante diz respeito à proibição de ataques que visem a população civil – o que, infelizmente, é raras vezes respeitado nos conflitos que vêm grassando mundo afora nestes últimos 20 anos pós-guerra-fria.
Nesta semana, um grande passo foi dado por 109 nações do mundo para colocar fim à utilização de bombas de fragmentação – bombas jogadas por aviões, ou mísseis terra-terra, que antes de atingir o alvo abrem-se, espalhando centenas de pequenas bombas com a potência de granadas por uma área equivalente a um ou dois campos de futebol. Tais armas, projetadas para deter o avanço de um exército, acabam por ter impactos devastadores sobre a população civil após o conflito, pois cerca de 25% dessas pequenas bombas permanecem intactas, aguardando serem tocadas por uma criança curiosa para explodir.
Segundo o acordo assinado em Dublin no dia 30 de maio, os países signatários comprometem-se a não usar bombas de fragmentação, a destruir os estoques existentes no prazo de oito anos, e financiar programas para a limpeza de antigos campos de batalha onde ainda se encontram milhões de bombas prestes a explodir.
A última farta utilização de bombas de fragmentação relatada deu-se no Líbano, em julho-agosto de 2006, quando Israel, em luta contra o Hizbollah, despejou milhares de bombas sobre o país – não contra exércitos em avanço, mas sobre áreas de população civil, numa agressão injustificada em que cerca de 1200 libaneses foram mortos (e Israel pela primeira vez derrotado). Estima-se que nos 40 dias de guerra Israel tenha despejado cerca de 4,3 milhões de sub-munições sobre o Líbano, das quais cerca de um quarto permaneceram aguardando o momento exato de explodir – desde então, pelo menos 40 libaneses foram mortos e 218 ficaram feridos ao se deparar com esta arma imoral. Nos últimos anos, registrou-se também o uso destas bombas, por parte dos Estados Unidos e seus aliados, no Iraque e no Afeganistão (país este que mais sofre com a presença de minas e sub-munições, que há décadas vêm se acumulando em seu território devido aos diversos conflitos ali ocorridos).
Como nem tudo são boas notícias, porém, há um pequeno e detalhe que me sinto obrigado a informar: entre os poucos países que recusaram o tratado, encontram-se os antagonistas Paquistão e Índia, as três superpotências (EUA, Rússia e China), e, como não poderia deixar de ser, Israel. O mundo, assim, fica claramente dividido entre os éticos e os outros.

HISTÓRIA
As bombas de fragmentação foram usadas pela primeira vez pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial, mas tornaram-se uma arma regular dos exércitos dos EUA, França e Inglaterra desde então. O mais conhecido vetor para as bombas de framentação é o foguete M26, que espalha 644 bombas M77 (sub-munições) sobre uma área de 2000 metros quadrados. As bombas M77, por sua vez, ao explodir espalham cerca de 300 pequenos pedaços de metal - "pessoas são decapitadas, pernas, braços, mão e pés são arrancados do corpo, e qualquer pessoa que ficar viva na vizinhança se transforma numa grande massa de sangue". Sob condições de teste, 23% das bombas não explodem no momento do impacto. Os Estados Unidos dispõem de 370.000 foguetes M26 em estoque.

VER MAIS
Se você quer conhecer os malefícios das bombas de fragmentação, consulte Documents on Cluster Bombs, no site do Human Rights Watch.
Se, pelo contrário, você deseja conhecer os "benefícios" do Foguete M26, consulte o material promocional na Lockheed Martin.

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